A decisão do Governo Federal de recorrer ao Supremo Tribunal        Federal (STF) para restabelecer o decreto que elevava as alíquotas        do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não pode ser vista        como um ato isolado. É mais um episódio que ilustra a fragilidade        da governança fiscal brasileira que, por sua vez, amplifica a        insegurança jurídica no país. Como resultado: queda da        atratividade para operações de M&A, private equity e venture        capital, principalmente envolvendo ativos da nova economia, como        sociedades de base tecnológica ou que operam inovação, segmento        que já sofre com restrições de liquidez e juros altos.
      O ano de 2024 se encerrou com desempenho nos negócios bastante        tímido. Em meados de 2025, o contexto não mudou. De fato, o        recente embate entre Executivo, Legislativo e Judiciário em torno        de matérias fiscais escancara um defeito estrutural que        exemplifica o risco para quem pretende aportar capital no Brasil.
      Na prática, o IOF impacta diretamente linhas de crédito        estruturadas, instrumentos de dívida e operações de hedge cambial,        que são essenciais, principalmente, para os negócios da nova        economia. Mas o ponto de atenção não é somente tributário. A        sobreposição de teses e argumentos de competência que estamos        vendo no caso do IOF adiciona incerteza política e insegurança        jurídica à uma matriz tributária brasileira que já é complexa e        onerosa. O mercado, naturalmente, guina o seu foco de atenção para        alternativas em praças menos voláteis e ativos sujeitos a        ambientes mais seguros do ponto de vista jurídico.
      O investidor estratégico não se apega apenas à taxa de retorno        ao investimento, mas considera, também, o custo e o risco de cada        operação. Investimento de longo prazo exige segurança jurídica,        framework regulatório claro e compromisso real com a estabilidade.        Nesse sentido, a governança fiscal deveria ser tratada como parte        do projeto de competitividade do país; para o investidor que        compara alternativas em outras economias, o desgoverno atual        somado ao já famoso custo Brasil vem tornando o país cada vez        menos atrativo na disputa por capital.
      A cada movimento de instabilidade, a credibilidade do país se        enforca um pouco mais. 
      Bancos de investimento e gestores de fundos de private equity e        venture capital precisam apresentar previsibilidade aos seus        próprios cotistas. Quando o Brasil sinaliza, repetidamente,        alterações normativas repentinas e disputas judiciais de caráter        meramente político, se projeta uma imagem de risco que não se        limita a um ciclo econômico específico, mas sim a uma        característica estrutural do ambiente de negócios brasileiro. E        isso custa muito caro.
      A dinâmica errática prejudica o ambiente de negócios como um        todo, mas principalmente as sociedades que operam na nova        economia, visto que a natureza desse segmento pressupõe ciclos        sucessivos de investimentos, captações externas e liquidez futura        por meio M&As. Como colateral direto, além da escassez de        capital circulando no país, verifica-se o aumento da complexidade        na estruturação jurídica das operações. Para mitigar riscos,        muitos investidores recorrem à constituição de camadas de holdings        no exterior e estruturas de financiamento mais sofisticadas, o que        termina levando os deals para fora do Brasil, ainda que o alvo        seja o investimento em um ativo brasileiro.
      Para que respiremos um ar de retomada, o Brasil precisará        provar que consegue atravessar um oceano complexo sem deixar que a        insegurança fiscal continue afastando os investidores        estratégicos. O país tem a chance de consolidar a sua posição como        polo de negócios inovadores desde que trate a governança        tributária não como um detalhe, mas como um pilar de atração de        negócios. A estabilidade é o insumo básico para quem decide        apostar no longo prazo. Caso contrário, seguiremos observando o        capital evitar desembarcar por aqui, migrando para mercados onde a        segurança jurídica não é apenas discurso. Não se pode perder de        vista que a disputa global por recursos é cada vez mais acirrada.        Cabe ao Brasil decidir onde irá ancorar a sua perspectiva.
      Bruno Tanus 
      Sócio do departamento de M&A/venture capital/private        equity/societário/contratos do Andrade Maia Advogados. Doutor em        Direito pela Universidade de Salamanca-Espanha e Doutor em Estudos        Jurídicos Comparados e Europeus pela Universidade de        Trento-Itália.
    
 




